Pontinha,
A região em que hoje se localiza a Pontinha fora já habitada pelos árabes, antes da Reconquista, existindo dados conhecidos sobre a Pontinha apenas a partir do século XIV.
Nos seus primórdios, era apenas aglomerado de muito fraca densidade populacional, banhado pelo rio da Costa que tem a sua nascente no Casal do Castelo. Teria na sua proximidade um cais de embarque – ’Porto da Paiã’ -, através do qual eram recebidos e escoados os víveres produzidos para o abastecimento de Lisboa, o que na época originou o desenvolvimento da região.
A Pontinha pertenceu ao Concelho de Belém, criado por Decreto de 11 de setembro de 1852, passando em 1886 para o Concelho dos Olivais, o que durou apenas alguns meses, dada a criação do Concelho de Loures em 26 de julho de 1886, delimitado na época com a construção da Estrada Militar ou Fiscal, para mais fácil cobrança de impostos de consumo.
A localidade da Pontinha está ligada às quintas e famílias nobres. Durante os séculos XVII e XVIII prosperaram as quintas e aí se instalaram, sobretudo para fins de veraneio, notáveis famílias da nobreza e representantes do clero.
A Quinta da Pontinha existe, pelo menos, desde 1657. O seu nome foi mudando ao longo dos séculos, de acordo com os seus proprietários.
No início do século XVIII era conhecida por Quinta dos Brasileiros (dado os seus proprietários à época terem enriquecido nessa antiga colónia), e após várias mudanças de propriedade fica conhecida em 1796 por Quinta dos Valadares. Só no século XIX passa a ser conhecida pelo atual nome — Quinta da Pontinha.
Toda esta área estava dividida em quintas e casais, de que perduraram ainda alguns nomes, como Casal do Falcão onde viveu o pintor Vieira Lusitano (1609-1783), Quinta da Paiã, Casal Novo, Casal de Azeitão, Quinta da Pentieira, Quinta do Enforcado e tantas outras.
Em 1912, a então Comissão de Melhoramentos do Concelho de Loures solicitou ao Governo a construção de uma via de caminho-de-ferro, que partisse de Campolide e passasse pela Luz, Odivelas, Caneças, Loures, Tojais, Fanhões, Bucelas, Freixial, Montachique, Malveira, algo que infelizmente nunca veio a acontecer limitando o desenvolvimento desta região no inicio do séc XX.
Em 1936 a Pontinha dá novas de desenvolvimento com a instalação de eletricidade e em 1947 iniciam-se as obras para o abastecimento de água, concluídas em 1949, contando na altura com 2507 consumidores.
Em 1950, com a explosão demográfica que atingiu o seu auge em 1965, a Pontinha torna-se numa zona dormitório, em que a falta de preocupações com o ordenamento urbanístico acabou por colocar os desafios atuais em matéria de requalificação e reordenamento.
Porém é a Pontinha fica ligada a uma das mais importantes páginas da história de Portugal. A 25 de abril de 1974, o Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas, instala-se no quartel do Regimento de Engenharia, desenhando a partir da Pontinha o futuro de um Portugal livre e democrático. Atualmente, este quartel integra um Núcleo Museológico, criado através de protocolo estabelecido entre o Regimento de Engenharia N.º 1 e a então Comissão Instaladora do Município de Odivelas.
A Pontinha, com uma área de 4,7 km2, situa-se na zona ocidental do Concelho de Odivelas e estabelece fronteira com as freguesias de Odivelas e Ramada-Caneças, e também com os Concelhos de Sintra, Amadora e Lisboa. Tem, de acordo com os dados dos censos de 2011, 23 041 habitantes.
Criada em 1984, pela Lei n.º 44/84, aprovada em 30-11-84 e publicada em 31-12-84, a Freguesia da Pontinha resultou da desanexação da Freguesia de Odivelas, sido elevada – núcleo urbano - à categoria de Vila pela Lei n.º 75/91, de 16 de agosto, aprovada em 16 de junho de 1991.
Subsistem ainda na Pontinha edifícios importantes e antigos, destacando-se:
- A Escola Profissional Agrícola D. Dinis, situada na Paiã, fundada no início século XX, mais concretamente em março de 1917, que desde a sua fundação ministra aulas sobre artes de utilidades práticas, além do ensino da agricultura. No seu património inclui-se uma vasta área destinada a experiências agrícolas, estimada em 100 hectares;
- O edifício onde hoje está instalado o Restaurante ‘Velho Mirante’, bem no centro da Vila, construído no século XVIII e que está classificado como Património de Interesse Municipal;
- O Centro Escolar Republicano ‘Tenente Valdez’, instalado na ermida de Nossa Senhora dos Prazeres, que se encontrava em completo abandono em 1911, apesar de já ter sido restaurada pelo Povo em 1908.
Bibliografia:
VAZ, Maria Máxima. Odivelas, Uma Viagem ao Passado, edição CMO, 2003
Outros textos dispersos.
Com a Lei n.º 11-A/2013, que deu cumprimento à reorganização administrativa territorial autárquica postulada pela Lei n.º 22/2012, de 30 de maio, a Freguesia da Pontinha foi agregada com a de Famões, dando origem, a partir de 29 de setembro de 2013, à União das Freguesias de Pontinha e Famões.
Com uma área de 4,66 km2, fica a uma altitude média superior aos 100 metros, sendo o ponto mais alto assinalado pelo marco geodésico do Casal do Bispo, com 289 metros, o que lhe permite ter algumas das mais bonitas panorâmicas do Concelho. Tem, de acordo com os dados dos censos de 2011, 11 095 habitantes.
Em termos administrativos, a Freguesia de Famões foi criada no dia 25 de agosto de 1989, por desanexação da Freguesia de Odivelas, sendo elevada à categoria de Vila no dia 19 de abril de 2001, com a aprovação na Assembleia da República da Lei 58/2001.
O povoamento da área que integrou a Freguesia de Famões remonta a épocas pré-históricas, havendo vestígios de ocupação humana pelo menos em datas que se podem situar no 5.º milénio antes de Cristo.
Cerca de 1912, o investigador Vergílio Correia dava conta da existência de duas estações arqueológicas em Famões, uma delas em terrenos dos Alvitos, de que hoje não se conhecem vestígios
Na década de 1920, Francisco Ribeiro, um amador de Arqueologia, fotografou e escavou quatro dólmenes que descobriu na zona dos Trigaches. E foi já na década de 1960 que estes monumentos foram mais profundamente estudados e catalogados pelos especialistas Octávio da Veiga Ferreira e Vera Leisner, que encontraram inúmeros vestígios megalíticos na área que denominaram Necrópole dos Trigaches.
O espólio recolhido pelos investigadores faz atualmente parte do Museu dos Serviços Geológicos, em Lisboa.
Em períodos anteriores ao séc. XVIII, Famões deveria ser um pequeno casal agrícola (igual a tantos outros existentes na mesma região), tal como aparece mencionado na confirmação de um aforamento feito pela Chancelaria de D. Afonso V, em 1457. Nessa época, o casal de Famãees – assim era denominado este “casal de pão” – pertencia à Gafaria de Almada (um hospital que acomodava os gafos ou leprosos) e andava aforado ao tanoeiro Lopo Fernandes que o doou a Beatriz Lourenço, os dois moradores em Lisboa (Chancelaria de D. Afonso V, Livro 7 – Estremadura, fl. 56 v. e 57 f.). Esta é a primeira notícia que até hoje foi possível encontrar relativa ao sítio de Famões. A partir do séc. XVIII, o nome de Famões começa a ser mais comummente fixado em numerosos documentos. Na Chorographia do Padre António de Carvalho (1712), Famões aparece como um lugar, a par dos Pombais, entendendo-se um lugar como um aglomerado de alguns (poucos) casais agrícolas. Nas Memórias Paroquiais de 1758, o pároco refere que no lugar de Famões habitavam 44 pessoas.
Pelos registos da Décima da Cidade (um documento fiscal do período pombalino), sabemos que o casal de Famões propriamente dito andava na posse de um Manuel Francisco Camello, que ainda nessa altura tinha obrigações fiscais com a Misericórdia de Almada, instituição onde os bens da Gafaria deverão ter sido incorporados.
Sobre a origem etimológica do nome de Famões pouco hoje se poderá dizer. A sua originalidade é quase única, existindo apenas uma outra localidade homónima no concelho do Bombarral.
Apesar de serem hoje mais excêntricos e, por esse mesmo motivo, terem perdido a relativa importância que antes tinham, mantêm-se desde os finais da Idade Média vários sítios ou lugares na toponímia actual. Estão neste caso o sítio dos Alvitos (hoje Quinta do Alvito), um lugar alto, de atalaia sobre o vale circundante; o Trigache, um lugar que poderá ter adquirido o nome a partir de um certo tipo de trigo, produção abundante na região; o sítio dos Queimados (hoje Casal das Queimadas), provavelmente um topónimo que poderá ter estado ligado à existência de gente de tez escura, ou mesmo negra; sítios que adquiriram o nome da paisagem, como muito provavelmente aconteceu com os Campos, os Carrascos, o Outeiro, a Silveira, o Saramagal, ou da orografia, como se nota na Barroca, no Cabeço do Bispo; por fim, lugares que obtiveram o seu nome da gente famosa que os deu em arrendamento, como o sítio das Comendadeiras, a Quinta do Abadesso ou a Quinta das Pretas d’El Rei.
Famões teve no passado uma atividade agrícola intensa. A existência de numerosas quintas e casais (Quinta do Alvito, Quinta do Segolim, Casal de S. Sebastião, Quinta das Pretas d’El-Rei, Quinta das Dálias, e muitas mais) denuncia bem essa característica. Aí se cultivavam cereais, oliveiras, laranjeiras, se apascentavam rebanhos de ovinos e se criava gado vacum, sendo o leite e o queijo, a par das cerealíferas e derivados, produtos importantes na economia da população.
As características do solo e as condições climatéricas deram uma relativa unidade económico-social a toda esta área.
A produção de cereais exigia lugares de concentração, para a tarefa de debulha — as eiras. Malhado e limpo nas eiras, ficava o trigo preparado para ser moído. Os ventos fortes e constantes, na Primavera e no Verão, que sopravam no planalto, possibilitaram o aproveitamento da sua energia, transformando-a em força motriz, para fazer mover os moinhos de vento, que chegaram na área circundante a ser mais de uma dezena.
Restam as ruínas de alguns desses moinhos, um dos quais, o Moinho da Laureana, no outeiro que encima o Jardim Gertrudes da Velha, é hoje o ex-líbris de Famões, depois de ter sido restaurado, funcionando como núcleo museológico.
Marcado por acentuados desníveis orográficos, dando origem a montes e “barrocas” (crateras), parte do território que constituiu a Freguesia de Famões reflete a importância das pedreiras do Trigache, cuja actividade é assim descrita nas Memórias Paroquiais de 1758. Foi destas pedreiras que saiu a pedra para a reconstrução da cidade de Lisboa aquando do terramoto de 1755.
O presente do território que constituiu a Freguesia de Famões já nada tem a ver com o passado referido antes. Era um pequeno aglomerado de casais de agricultores “saloios” dedicados às culturas hortícolas e à pecuária com que ajudaram a alimentar Lisboa. Com o tempo, instalaram-se aqui várias quintas de veraneio para a nobreza e familiares, e também para famílias burguesas endinheiradas da cidade.
Mesmo assim, olhando para a primeira carta aérea da região, feita pelo Instituto Geográfico Cadastral em 1944, verifica-se o carácter totalmente rural de Famões nessa época.
O panorama alterou-se profundamente nas décadas de 60-70 do século XX, numa transformação contínua até à atualidade. A proximidade de Lisboa, capital do País, e, ao mesmo tempo, a abundância de espaço a preços na altura convidativos, facilitaram a implantação de construção urbana ilegal, hoje em total recuperação e legalização. Surgiram empresas familiares e unidades de pequena e média indústria, atualmente em parques empresariais. O comércio também tem sido alvo de investimento, com a criação de armazéns grossistas e de supermercados das grandes marcas que operam em Portugal.
A construção habitacional é na sua esmagadora maioria do tipo moradia familiar de dois andares, havendo poucos locais onde é permitida a construção de outra tipologia.
E assim somos nós, Freguesia de Pontinha Famões.